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Por Savio de Toledo Mancuso
LA Machado Advogados Associados

A advocacia brasileira tem enfrentado uma conjuntura desafiadora, marcada por ampla concorrência, transformação digital e aumento da complexidade regulatória. Com mais de 1,3 milhão de advogados ativos no país, segundo dados da OAB (2024), os escritórios jurídicos, especialmente os de pequeno e médio porte, estão pressionados a adotar práticas mais estruturadas e sustentáveis. Nesse cenário, a profissionalização da gestão jurídica deixa de ser um diferencial para se tornar uma necessidade.

A figura do gestor jurídico emerge como peça fundamental nesse novo paradigma. Sua atuação vai além da administração de rotinas operacionais: trata-se de um papel estratégico, voltado à organização de processos, definição de metas, estruturação financeira, análise de indicadores e fortalecimento da experiência do cliente. Pesquisas conduzidas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pelo Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA) apontam que escritórios com gestão estruturada tendem a apresentar margens de lucro até 30% superiores, refletindo maior eficiência e previsibilidade de resultados (CESA; FGV, 2021).

Apesar disso, uma parcela significativa dos escritórios brasileiros ainda opera de forma informal, com baixa adoção de métricas e planejamento. De acordo com dados do Legal Management Institute (2023), aproximadamente 40% dos escritórios de pequeno e médio porte não possuem controle preciso do tempo dedicado a cada caso ou do custo médio por cliente — o que compromete decisões estratégicas e a sustentabilidade da operação.

Paralelamente, a literatura especializada e relatórios de tendência de mercado, como o estudo “Future of Law” da Thomson Reuters (2023), indicam que a valorização da gestão jurídica deve se acentuar nos próximos anos. Temas como experiência do cliente, inovação, governança e cultura organizacional já figuram entre os principais fatores de competitividade identificados em escritórios de alta performance.

A resistência cultural à profissionalização, ainda presente em muitos ambientes jurídicos, precisa ser superada. É possível — e necessário — conciliar os valores tradicionais da advocacia com a adoção de modelos organizacionais mais modernos. A excelência técnica permanece central, mas ela deve caminhar lado a lado com a eficiência, a previsibilidade e a visão estratégica.

Reconhecer a gestão profissional como um pilar da atuação jurídica é, portanto, um passo fundamental para os escritórios que desejam crescer com solidez e relevância em um mercado cada vez mais exigente.

Referência

  • CESA; FGV. Pesquisa de Gestão em Sociedades de Advogados. Centro de Estudos das Sociedades de Advogados / Fundação Getulio Vargas. São Paulo, 2021.
  • Legal Management Institute. Relatório Anual de Gestão Jurídica. São Paulo, 2023.
  • OAB – Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Número de Advogados Ativos no Brasil. Brasília, 2024. Disponível em: www.oab.org.br.
  • Thomson Reuters. Future of Law: Legal Industry Trends Report. 2023.